Sempre que podia ia para a praia, sentar-me
na areia, que entrava nas minhas sandálias, enquanto desenhava a paisagem que
se encontrava à minha frente.
Começava a rabiscar no meu caderno enquanto ouvia o suave som
das ondas a baterem nas rochas… Lembro-me de às vezes encontrar um velho que me
dava sempre dois dedos de conversa. Dizia que a pesca já não é o que era devido
à poluição e ele parecia extremamente afectado… Provavelmente foi pescador.
O som da chuva a
bater na minha janela era outro elemento que me inspirava no desenho. Sentava-me
na poltrona junto da janela com a luz de cabeceira ao lado, mesmo como nos
filmes e soltava a minha alma no papel.
Foi dia 14-02-12
que tudo aconteceu. Sim, no Dia dos Namorados. Tinha ido à Praia dos Espelhos
com a minha companheira. Também nunca percebi muito bem o nome mas é uma praia
linda. Aventurei-me a ir para cima das rochas, para puder observar melhor o mar
enquanto o desenhava, aproximei-me demais que infelizmente caí.
Só me lembro de ver
duas pessoas tapadas com algo branco na cara a olhar para mim. Acordei 1 mês
depois no hospital. Pelos vistos bati com a cabeça numa rocha e fiquei
inconsciente… Fiquei com traumatismo craniano e hipotermia… Mas isso superei
facilmente. Felizmente, só houve uma coisa que não pode ser curada… Fiquei
surdo. Entrou demasiada água nos meus ouvidos… Custou-me nos primeiros meses… É
tudo muito diferente sem som. Nos primeiros meses parecia que nada tinha vida.
Já não podia ouvir o miar do meu gato, já não podia ouvir música que era outra
das minhas fontes de inspiração para o desenho… Basicamente, os sons da vida
desapareceram.
Até que comecei a
habituar-me e a viver com isso. Deixou de ser um problema, porque felizmente
ainda tinha o desenho e a escrita. Desde que isto me aconteceu comecei a dar
mais importância à escrita. Continuo também a desenhar. Até alguns dos meus
desenhos foram expostos numa galeria dum amigo meu.
Desde o acidente só
fui à Praia dos Espelhos uma vez… Emocionei-me e muito. Mas mantive-me forte e
comecei a escrever lá este texto. Achei que seria bom expressar os meus
sentimentos nas palavras também e não só no desenho.
E assim passou a ser
a minha vida: Sem o som da chuva a cair mas com o poder das palavras!
Autora: Joana Amorim
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